4. Crónicas
Não me esqueci de ti
Lembrei-me de ti ao percorrer o silêncio nocturno dos canais de mangais da porta dos fundos da costa da grande ilha Africana.
Lembrei-me de ti ao seguir perdido os carris dos eléctricos nas colinas do luar da urbe iluminada de amarelo e ocre, abraçado ao nada, com uma melodia nostálgica a recortar a paisagem dos meus pensamentos preenchido pelas linhas que se cruzavam no granito da calçada.
Lembrei-me de ti ao espreitar, como um voyeur assumido, para o interior do pequeno apartamento do casal de idosos catalães numa rua do Eixample, quando ao subir as escadas íngremes, deparo-me com o meu reflexo no enorme espelho que ladeia a porta, sob o aparador uma foto de felicidade com mais de cinquenta anos, de noivos vestidos de sentimentos numa cidade que se negava a vergar às tropas fascistas.
Lembrei-me de ti ao escorregar suavemente na pista de gelo da Praça de Santa Catarina envolvido pela música natalícia Flamenga dos anos oitenta, agarrado ao meu gorro colorido para não me reconhecerem numa tristeza contrastante.
Lembrei-me de ti quando, descalço, sob a chuva das monções nas pedras frias do templo fantasista do Sul do sub continente, a imitar uma multidão de peregrinos vestidos de negro e dourado, era abençoado pelo paquiderme de serviço a troco de algumas rupias.
Lembrei-me de ti enquanto afogado no banco desconfortável da estação central, invejava os camponeses dos Estados do Este que seguiam atentamente os Mumbaites na sua azáfama nocturna de desencontros inocentes à porta do restaurante de fast food falsamente iluminado, com um imigrante empurrar repetidamente a porta que os transportaria para uma outra dimensão enganadoramente auspiciosa.
Lembrei-me de ti ao fotografar uma camponesa da Indochina no seu vestido florido a rosas numa pose inocente, a soltar um sorriso libertador de um pesadelo esquecido e enterrado numa década anterior.
Lembrei-me de ti enquanto dissertava sem justificação na linguagem convencionada da Ciência sobre a inevitabilidade suspensa da nossa vida, tão curta, dura e injusta, a pular por lagos ínfimos de felicidade, a um pai e a uma irmã, habitantes de uma cidade que eu já desconheço.
Lembro-me de ti ao escrever este texto, a olhar para o cursor mirrado a avançar timidamente sob o fundo branco, empurrado pelo premir das teclas numa melodia que desejava mais inspirada.
Depois esqueço.
Lembrei-me de ti ao percorrer o silêncio nocturno dos canais de mangais da porta dos fundos da costa da grande ilha Africana.
Lembrei-me de ti ao seguir perdido os carris dos eléctricos nas colinas do luar da urbe iluminada de amarelo e ocre, abraçado ao nada, com uma melodia nostálgica a recortar a paisagem dos meus pensamentos preenchido pelas linhas que se cruzavam no granito da calçada.
Lembrei-me de ti ao espreitar, como um voyeur assumido, para o interior do pequeno apartamento do casal de idosos catalães numa rua do Eixample, quando ao subir as escadas íngremes, deparo-me com o meu reflexo no enorme espelho que ladeia a porta, sob o aparador uma foto de felicidade com mais de cinquenta anos, de noivos vestidos de sentimentos numa cidade que se negava a vergar às tropas fascistas.
Lembrei-me de ti ao escorregar suavemente na pista de gelo da Praça de Santa Catarina envolvido pela música natalícia Flamenga dos anos oitenta, agarrado ao meu gorro colorido para não me reconhecerem numa tristeza contrastante.
Lembrei-me de ti quando, descalço, sob a chuva das monções nas pedras frias do templo fantasista do Sul do sub continente, a imitar uma multidão de peregrinos vestidos de negro e dourado, era abençoado pelo paquiderme de serviço a troco de algumas rupias.
Lembrei-me de ti enquanto afogado no banco desconfortável da estação central, invejava os camponeses dos Estados do Este que seguiam atentamente os Mumbaites na sua azáfama nocturna de desencontros inocentes à porta do restaurante de fast food falsamente iluminado, com um imigrante empurrar repetidamente a porta que os transportaria para uma outra dimensão enganadoramente auspiciosa.
Lembrei-me de ti ao fotografar uma camponesa da Indochina no seu vestido florido a rosas numa pose inocente, a soltar um sorriso libertador de um pesadelo esquecido e enterrado numa década anterior.
Lembrei-me de ti enquanto dissertava sem justificação na linguagem convencionada da Ciência sobre a inevitabilidade suspensa da nossa vida, tão curta, dura e injusta, a pular por lagos ínfimos de felicidade, a um pai e a uma irmã, habitantes de uma cidade que eu já desconheço.
Lembro-me de ti ao escrever este texto, a olhar para o cursor mirrado a avançar timidamente sob o fundo branco, empurrado pelo premir das teclas numa melodia que desejava mais inspirada.
Depois esqueço.
Estás amoroso de alguém ou escreves assim tão bem sem qualquer inspiração do amor? Já a "lembras-te de Paris?" está muito bonita.
Joana
Posted by moakys | 16:22
A inspiração está sempre lá... O Amor é...
Obrigado e beijinhos
Posted by status | 19:43