24 July 2007 

7. Crónicas

Fogo de Artifício

Acompanhava, ébrio, as sombras dançantes das folhas dos coqueiros na parede caiada do abrigo, sob o ocre do pôr do Sol precoce do Pacífico, quando me entregaste uma gargalhada desprevenida que nunca te coíbes de partilhar. Despertei por momentos para apreciar os traços do teu rosto marcado pelas vicissitutes vividas que nunca lhe tiraram esse ar de frescura. Esse sorriso estampado, desafiador, sob o cocktail de pedras preciosas, atirado e indefensável, sempre me fizeram reflectir na ternura potencial do ser humano.
Aterrei na areia quente da praia, a deslumbrar por entre os caracóis dos teus cabelos laranja fogo de artifício, o mirrar do céu azul, a esconder-se rapidamente numa despedida fugaz, para ser abraçado pelo riso da noite clara de lua cheia...
Olhava pelo vidro a apreciar levemente a copa dos pinheiros ondulantes sobre a brisa quente de uma tarde de Verão mediterrânica e sentia-te perto, verdadeiramente perto para me varreres qualquer alucinação solitária.
Nas tardes chuvosas da cidade continental abriguei-me sempre no calor do refúgio dos teus braços, do teu quarto, como um soldado desesperado depois de uma comissão longa de batalhas inglórias em selvas desconhecidas.
Hoje eu sei que não vou voltar...